Oportunidade disfarçada – Dificuldades de Mercado em Geral
Trecho extraído do livro: “Oportunidades disfarçadas” de Carlos Domingos – Editora Sextante
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O executivo entra na sala do diretor e diz:
- Chefe, temos um problema.
- Que bom. Sente aqui e conte tudo.
Parece exagero, mas é assim que pensa o pessoal da Toyota. A companhia japonesa tem uma maneira única de encarar os problemas: para eles, é uma oportunidade de melhorar o processo.
Explicando melhor: o processo de fabricação de um veículo tem início no projeto e só termina quando o automóvel é entregue ao cliente. A Toyota tem obsessão por melhorar cada etapa. Como? Incorporando qualquer idéia que gere mais economia, agilidade, produtividade ou evite o desperdício. É o chamado Sistema de Melhoria Contínua.
A empresa acredita que um processo nunca está redondo. Sempre é possível que seja melhorado, simplificado, aperfeiçoado. E uma das formas de fazer isso é justamente através da identificação de problemas. Quando eles aparecem, é sintoma de que algo não vai bem. Ao investigar suas causas e buscar eliminá-las, naturalmente o problema não irá se repetir no futuro e o processo ficará mais robusto.
Isso é totalmente o oposto do pensamento tradicional. Principalmente no Ocidente, as empresas veem problemas como algo necessariamente ruim, negativo. Por isso, devem ser evitados, acobertados. Os funcionários evitam levar um problema para os chefes porque tem receio de serem identificados com ele. Os superiores não querem saber de problemas porque fatalmente terão de resolvê-los: “Mas que chateação! Quem trouxe essa história?”
Convenhamos: não é uma atitude muito inteligente. Afinal, desprezar um problema não significa que ele vá deixar de existir. Pelo contrário, vai persistir, pode crescer e causar danos ainda maiores no futuro.
Não é que a Toyota goste de problemas. A companhia simplesmente não entende que essas situações trazem aprendizados. Se existe um erro, ele está no processo, e não nas pessoas. Seus profissionais são avaliados pelo que contribuem com sugestões, idéias e... problemas. Interessante, não é mesmo?
É por ter essa filosofia única que a montadora japonesa se tornou uma das empresas mais respeitadas e lucrativas do mundo. A marca terminou o ano de 2008 como a maior fabricante de automóveis do planeta, encerrando 77 anos de liderança da General Motors.
Por sua eficiência, o sistema Toyota de Produção é estudado nos quatro cantos do mundo. Apesar de aparentemente simples, não é nada fácil entende-lo e implantá-lo. A própria Toyota levou décadas para desenvolver o modelo, que surgiu da mais profunda necessidade. É o que veremos a seguir.
1946. O Japão devastado pela Segunda Guerra. Inúmeras fábricas destruídas pelos ataques aéreos. A economia do país estagnada. Escassez de praticamente tudo, de alimentos a roupas. Predomínio do mercado negro.
Uma de suas indústrias, a Toyota Motor, corria o risco de fechar as portas. Fundada por Kiichiro Toyoda no final da década de 1930, a empresa não tinha demanda no mercado interno, nem condições de competir no externo. Por isso, sua única alternativa foi olhar para dentro e rever sua forma de trabalhar.
A esperança era atuar no mercado internacional, mas como disputar com sólidas montadoras como General Motors, Chrysler e Ford? A saída foi realizar mais com menos. Como? Potencializando o que tinha em mãos. Para aproveitar melhor a matéria prima, diminuir resíduos e sobras; para ter soluções inovadoras, utilizar toda criatividade dos funcionários; para ser mais competitivo, ter foco no produto final e no consumidor.
A companhia iniciou então o desenvolvimento de um sistema diferente, com conceitos inovadores de gestão. Foram 30 anos de experimentações e testes, em que diversos modelos foram tentados, modificados, substituídos e combinados, até chegar a fórmula atual, que também não é definitiva (lembre-se que é um sistema de melhoria contínua). No final deste capítulo, você verá como esse modelo funciona na prática.
Enfim, a história mostra que foram as limitações que fizeram a Toyota encontrar seu caminho para a diferenciação e o sucesso. Inúmeros casos narrados neste livro ilustram como os obstáculos foram importantes para levar as empresas rumo à glória.
As dificuldades de mercado também podem impulsionar o seu negócio – depende de sua atitude perante um problema, da forma como sua empresa vai lidar com a situação.
Não se trata de otimismo, mas compreensão da realidade e mudança de rota. “O pessimista se queixa do vento. O otimista espera que ele mude. O realista ajusta as velas”, disse o americano William Arthur Ward.
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Contribuição: Murilo R Shibata - muriloshi@gmail.com